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A evolução teórica da força de vontade e sua relação com a autodisciplina

O assunto tem sido debatido há décadas por alguns entusiastas da ciência psicológica e já em 1960, Walter Mischel testou a força de vontade de crianças de quatro anos de idade no “Teste do Marshmallow”, onde cada uma delas recebeu um marshmallow e disse-lhes que podiam comer quando quisessem, mas se esperassem 15 minutos, receberiam um segundo como gratificação.

A força de vontade, também chamada de autocontrole e muito confundida com autodisciplina, em seus momentos iniciais como objeto de estudo, começou a ser explicada através do modelo de energia do autocontrole.

De acordo com esse modelo energético, o cérebro tem sua energia esgotada com atos de determinação, força de vontade, sugestionando que a força da qual dispomos para enfrentarmos vontades sabotadoras é limitada e de acordo com os defensores da teoria, bastariam uma ou duas resistências para, então, finalmente cedermos aos desejos que contrariam nossos objetivos e valores.

Na prática, se você está se esforçando para acordar cedo e então supera a tendência de voltar a dormir, provavelmente, segundo o modelo, terá menos energia para não repetir o hábito de divagar pelas redes sociais perdendo tempo com coisas que comprometem seu objetivo de ser mais produtivo.

A força de vontade depende de estímulo nutricional

Além disso, os defensores dessa teoria relataram evidências de que o cérebro, assim como um músculo, é alimentado principalmente por carboidratos simples, como açúcar, e que a força de vontade esgotada pode ser reabastecida.

Por sua grande relevância, sobretudo, em territórios que necessitam de teorias precisas como o neuromarketing, que aproveitando-se bem do referido modelo, estruturado sob o esgotamento do ego, orienta para apresentação de produtos volúveis facilmente rejeitáveis no final das compras — os doces que ocupam corredores que levam até o caixa de supermercado.

Mas a despeito da influência do modelo energético em estudos sobre força de vontade, nem todos os cientistas estão convencidos de que é a história toda. Daniel Molden, da Northwestern University, está entre os céticos.

Em estudos mais recentes, ele e sua equipe, motivados a questionar vários aspectos do modelo energético, começando com a afirmação fundamental de que os atos de autocontrole diminuem os níveis de glicose no sangue, chegaram à conclusão de que voluntários que concluíram inicialmente uma tarefa mentalmente desafiadora foram de fato menos persistentes na tarefa subsequente, demonstrando um resultado harmônico com o trabalho anterior de apoio ao modelo energético.

Mas, a descoberta mais importante — esses voluntários não mostraram uma queda da glicose no sangue, indicando que o ato da força de vontade não levou ao aumento do metabolismo dos carboidratos, como o modelo prevê. Nem parece que o baixo nível de açúcar no sangue possa explicar o lapso subsequente no poder de resistir às tentações ou desejos danosos.

O modelo energético também prevê que o consumo de açúcar reabastecerá o autocontrole, revertendo o esgotamento dos recursos mentais necessários para o autocontrole.

A força de vontade depende de motivação

Mas, novamente, Molden e seus colegas, através de um experimento que não permitia a metabolização do açúcar, mas que consistia apenas em um enxágue bucal com água açucarada, teve o mesmo efeito, restaurando a força de vontade. E concluíram que o mecanismo da força de vontade é a motivação.

Eles passaram a crer que a boca sente os carboidratos no enxaguante bucal, e essa sensação sinaliza, provavelmente através do sistema de dopamina do cérebro, a possibilidade de que uma recompensa esteja chegando. Sentindo que um aumento de energia está chegando, o cérebro é motivado a se esforçar mais. Em suma, nossa mente é motivada pela recompensa por vir, e isso resulta em força de vontade.

É oportuno saber que, a disciplina, muitas vezes confundida com força de vontade, difere-se desta, pela ausência de estresse nos momentos em que nossos objetivos conflitam com desejos por recompensas instantâneas, porque já foi instalada em nosso mindset.

Força de vontade constante produz autodisciplina

A força de vontade é, portanto, um ensaio para a autodisciplina. Ela é um campo onde travamos embates entre o certo e o errado, entre a necessidade e o desejo, e esses embates seguem até que, pela força do hábito de resistir, evoluímos para um estado mental onde não precisamos mais conflitar com nossos objetivos.

Você vai se interessar por: Se o sucesso fica no topo de uma escada, a autodisciplina é o primeiro degrau.

A força de vontade, um aspecto importante também do controle inibitório, ou inibição de resposta, num estudo concebido por Timpano, KR; Schmidt, NB (2013), é um processo cognitivo e, mais especificamente, uma função executiva que permite ao indivíduo inibir seus impulsos e respostas comportamentais naturais, habituais ou dominantes a estímulos para selecionar um comportamento mais apropriado, consistente com o cumprimento de seus objetivos.

A importância do viver consciente para a força de vontade

Por fim e ao que tudo indica, a força de vontade é alcançada com a consciência sobre uma recompensa futura e mais gratificante ou uma recompensa instantânea — orgulho e gratidão por resistir ao desejo.

Atitudes recorrentes de inibição de impulsos que comprometem nosso desenvolvimento é o que garante um estilo de vida vencedor, como sugeriu o “Teste do Marshmallow” — pois, anos depois, quando o Dr. Mischel procurou os participantes de seu estudo que estavam na casa dos 40 anos, descobriu que aqueles que demonstraram menos força de vontade comendo o único marshmallow no estudo inicial, haviam desenvolvido problemas com relacionamentos, estresse ou algum tipo de vício ou dependência química.

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